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Três homens foram presos por suspeita de envolvimento no assassinato da líder quilombola Mãe Bernadete. Em entrevista concedida nesta segunda-feira (4), o secretário de Segurança Pública Marcelo Werner informou que ainda não se tem certeza sobre as motivações para o crime.

Os presos teriam ligação direta com o caso: um foi capturado com o celular da vítima; outro foi encontrado com armas similares as usadas no crime; e o terceiro seria um dos executores. Os nomes não foram divulgados.

Mãe Bernadete foi morta na noite de 17 de agosto, no Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador.

Um dos presos teria apresentado aos policiais uma motivação para o crime, mas o secretário informou que essa versão ainda não foi confirmada. "É muito cedo para que possamos assumir uma motivação específica, podendo, inclusive, prejudicar as investigações em andamento", pontuou.

A polícia também não descarta a participação de mais pessoas no crime.

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O subsecretário de Segurança Pública da Bahia, Marcel de Oliveira, que é o secretário em exercício, afirmou que a investigação sobre a morte de Mãe Bernadete está indo bem e que a polícia já sabe quem cometeu o crime. Mãe Bernadete foi executada a tiros em Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador, no dia 17 desse mês.

"A investigação está bem adiantada, com autorias definidas, com prováveis motivações conhecidas. No entanto, a investigação tramita em sigilo, mas pode ter certeza que a família vai ter o resultado que ela precisa e merece receber em pouco tempo", disse Marcel em entrevista à TV Globo.

Crime

O quilombo onde Mãe Bernadete, 72 anos, foi assassinada tem sete câmeras de segurança, mas apenas três estão realmente funcionando. A líder quilombola estava em programa de proteção do estado por conta das ameaças que sofria por defender os direitos humanos e, principalmente, por lutar pela demarcação e titulação das terras de Pitanga dos Palmares.

As câmeras deveriam ajudar na proteção dela e da comunidade, só que mais da metade dos equipamentos estavam desligados, o que pode dificultar o trabalho da investigação. Os familiares de Mãe Bernadete deixaram Pitanga dos Palmares por conta própria, em busca de segurança, no mesmo dia em que a quilombola foi morta.

A investigação da morte de Mãe Bernadete está sob sigilo, mas uma fonte que acompanha o inquérito confirmou para a reportagem que o laudo da necropsia no corpo da líder quilombola concluiu que ela foi morta com 22 disparos, sendo 12 no rosto e 10 na região do tórax. As armas e munições utilizadas não foram especificadas.

Família repudia fala de governador sobre ação do tráfico

A família de Mãe Bernadete está revoltada com a fala do governador Jerônimo Rodrigues (PT) sobre uma suposta motivação para o assassinato da líder quilombola. Na semana passada, o governador relacionou o crime à uma possível guerra entre facções criminosas no território do quilombo.

A fala foi classificada pelo advogado da família, Leandro Santos, do Instituto de Acesso à Justiça e à Cidadania, como "irresponsável, violenta e precipitada" e com “potencial de induzir a investigação da Polícia Civil a seguir uma pista que não tem amparo na realidade”.

O advogado explica ainda que a fala do governador exclui as razões mais prováveis para a execução da defensora dos direitos humanos, que é a disputa fundiária, com a ação de grileiros e de madeireiros ilegais na região do quilombo Pitanga dos Palmares, que está situado em uma Área de Proteção Ambiental (APA). O outro advogado da família, David Mendez, disse que a grilagem é a principal linha investigativa.

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Uma operação da Polícia Federal, com apoio das polícias Rodoviária Federal e Militar, destruiu cerca de 130 mil pés de maconha no norte da Bahia, desde o dia 24 de agosto. Além disso, foram apreendidos 60 kg de maconha já prontos para consumo e 40 kg de sementes de maconha. Três pessoas foram presas em flagrante.

A ação, que foca na erradicação de plantios de maconha, segue até 1 de setembro. Participam cerca de 60 policiais de várias forças de segurança, com uso de duas aeronaves.

Os plantios destruídos foram localizados através de levantamentos feitos pelas polícias Federal e Militar nas cidades de Abaré, Sento Sé e Xique-Xique, na Bahia, além de Cabrobró, Pernambuco. A PF não informou onde foram presos os três suspeitos.

Os policiais monitoram o ciclo produtivo da cannabis e as ações são realizadas perto do período de colheita.

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Homem é morto a tiros no final de linha do IAPI; é a segunda morte em menos de 24hUm homem ainda não identificado foi morto com seis tiros no bairro do IAPI, na manhã desta quarta-feira (30). O crime aconteceu na localidade de Nova Divinéia, no final de linha do bairro.

O homem estava próximo a barracas em uma feira quando foi atingido pelos disparos. "O cara estava parado ali em frente a barraca do coco. Não vi se ele estava só parado ou consumindo, mas chegaram dois caras a pé e atiraram nele que caiu ali mesmo. Depois, saíram andando daqui como se nada tivesse acontecido. Foi por volta das 9h30 isso", relata um comerciante.

Os disparos provocaram correria no local, que estava movimentado. "Não vi o que houve porque estava de costas. Só ouvi os tiros e vi todo mundo correndo. Foram alguns tiros, não consegui contar. O susto foi grande e queria me proteger porque estava bem perto das barracas", diz uma senhora, sem se identificar.

Os moradores do bairro reclamam da violência. O crime aconteceu Rua Conde de Porto Alegre, a principal do bairro e a mesma via onde o motorista de aplicativo foi assassinado na noite dessa terça-feira (29).

"No IAPI, está assim agora. Não tem hora e nem lugar. Pra você ver, na feira e no meio da manhã fizeram isso. Poderia pegar em qualquer um de nós que estava perto. Impossível viver em paz aqui", fala a primeira senhora.

Segundo moradores, o nome é Felipe. Trabalhava com serviços gerais na Creta, uma terceirizada que presta serviço ao Hospital Geral Ernesto Simões.

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Três envolvidos na chacina que vitimou nove pessoas na colônia JK, em Mata de São João, foram localizados na madrugada desta terça-feira (29), por policiais civis. Dois deles foram mortos em confronto e um foi preso.

Segundo informações da Polícia Civil, eles estavam escondidos em uma área de mata. Na ação, um foi preso em flagrante por homicídio qualificado e outros dois resistiram atiraram contra os policiais. Segundo a polícia, os dois foram baleados, socorridos para o hospital, mas não resistiram.

O quarto envolvido ainda está sendo procurado dentro de uma região de mata", explicou a diretora do Depom, delegada Christhiane Inocência.

Participam da operação policiais do Departamento de Polícia Metropolitana (Depom), do Departamento Especializado de Investigação e Repressão ao Narcotráfico (Denarc) e da Coordenação de Operações e Recursos Especiais (Core).

Com os criminosos foram apreendidos duas pistolas, carregadores, munições, rádios comunicadores e porções de drogas. As oitivas seguem para identificar a motivação do crime. Todo material apreendido será encaminhado ao Departamento de Polícia Técnica (DPT). O custodiado segue preso à disposição do Poder Judiciário.

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A chacina que deixou nove mortos em Mata de São João na madrugada desta segunda-feira (28) teria sido motivada por conflito entre traficantes. Na Colônia JK, onde um imóvel foi invadido, vivia um homem identificado 'Preá', que seria integrante da facção Tropa. Ele era o alvo do ataque de homens da grupo criminoso Bonde do Maluco (BDM). No entanto, além dele, outro homem, quatro mulheres e três crianças foram mortas durante a ação.

Uma moradora, que prefere não se identificar, conta que sete das vítimas, todas da mesma família, moravam há pouco tempo nas casas onde foram mortas. As outras duas vítimas eram vizinhas que foram mortas na frente de casa ao sair para ver o que estava acontecendo. "Eles chegaram tem pouco tempo, mas esse Preá era envolvido de outra facção. Como todo mundo ficava no mesmo lugar, vieram pegar um, mataram nove", conta ela, que acordou assustada com os tiros por volta das 3h.

Na região, há uma atuação do BDM e a ação seria uma represália a tentativa da Tropa se estabelecer na zona rural de Mata de São João. Por conta do medo, muitos dos moradores preferiram não falar com a reportagem sobre a motivação do crime e a atuação dos dois grupos criminosos na região.

Ainda no local do crime, nenhuma fonte oficial da Polícia Civil ou da Polícia Militar, que reforça o policiamento na área, conversaram com a imprensa. Diligências já estão sendo realizadas e moradores ouvidos para a investigação do caso.

 

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Em um muro da Rua Campo do Ideal, a tinta branca foi usada na tentativa “simbólica” de apagar a mais perigosa aliança do crime organizado feita recentemente na Bahia. É no final de um beco na cidade de Santo Amaro, no Recôncavo, que está escancarada essa parceria, que promete tornar ainda mais sangrentos os conflitos do tráfico de drogas no estado. Afinal, o Terceiro Comando Puro (TCP) é a segunda maior facção do Rio de Janeiro, e, por isso, arquirrival do Comando Vermelho (CV), que já está pulverizado em terras baianas.

Há cerca de quatro meses os santamarenses do bairro do Bonfim acordaram com as paredes de suas casas, muros e estabelecimentos comerciais pichados com a sigla do Bonde do Maluco (BDM) sobre as iniciais do TPC. De acordo com o universo das organizações criminosas, isso significa que a facção local, neste caso o BDM, a maior facção criminosa da Bahia, está “fechada”, que é a mesma coisa de “aliada”, com o TCP.

O CORREIO esteve em Santo Amaro na quarta-feira (23), um dia após uma grande operação da Polícia Militar na cidade (saiba mais abaixo). O clima ainda era tenso entre os moradores. Pouquíssimos aceitaram falar, mesmo com a garantia da preservação da identidade.

Entre inúmeras tentativas, a reportagem conseguiu falar com um senhor que teve a casa marcada com as inscrições. “Logo após a primeira semana de abril, a gente dormiu e acordou com tudo riscado. A gente ficou sabendo o que realmente se tratava, quando no mesmo dia eles (traficantes) divulgaram um vídeo mostrando as porcarias que fizeram e ainda exibiam armas para pôr medo”, disse. “Todo mundo ficou apavorado de o outro grupo chegar aqui atirando, com raiva, e por isso nos unimos e apagamos a maioria das pichações. Você percebe que a tinta é de muito tempo”, contou ele, passando a mão sobre o local, depois de fazer referência ao CV, que também atua na cidade, mas em menor proporção.

Todas as pichações estão concentradas na localidade conhecida como Ideal, fundo da igreja que leva o nome do bairro. Lá, a reportagem localizou apenas uma inscrição com mais de 50% de preservação, na Rua Campo do Ideal, onde só é possível passar um carro por vez. “Aqui sempre foi um ambiente familiar, onde todo mundo se conhece. Mas depois que essa turma chegou há um tempo e escreveu isso tudo nas paredes, ninguém mais tem paz. Basta escurecer que todo mundo fica em casa e eu nem posso conversar muito com você, porque o pessoal deles fica xeretando, principalmente quando tem alguém de fora”, disse ele, antes de encerrar a conversa.

“Dobradinha”

A aproximação entre o BDM e o TCP se deu através do traficante santamarense conhecido como Cabeça, quando há alguns anos cumpria pena em Bangu 1, no Rio. De volta a Santo Amaro, Cabeça gerencia o tráfico nos bairros de Nova Santo Amaro e Sacramento, uma das principais áreas de atuação do BDM.

Até a chegada da notícia da “dobradinha”, era sabido que o BDM tinha o apoio do Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa de São Paulo e a maior do país. A relação entre as duas foi construída com o PCC fornecendo drogas e armas. Porém, não se sabe ao certo se acabou, mas o que é de conhecimento em Santo Amaro, inclusive comentado pelos próprios policiais, é que essa aliança teria sido rompida, por vários motivos.

O primeiro e mais importante seria o fato de o PCC não se estabelecer na Bahia, como fez em Sergipe, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte. Desta forma, o BDM vem enfrentando grandes batalhas com o fortalecimento do CV em Salvador e sua expansão para outras cidades.

“Além do agravamento na disputa por territórios, esse Terceiro Comando Puro tem o modo de operação muito mais agressivo, mais do que o PCC. Tudo indica que o PCC tinha objetivos maiores ligados ao tráfico internacional e talvez não tivesse dando a assistência que o BDM necessita”, avaliou o especialista em segurança pública, o coronel Antônio Jorge, coordenador do curso de Direito do Centro Universitário Estácio FIB da Bahia.

O segundo ponto é que já havia o desejo do TCP de se fixar na Bahia, por causa da dimensão territorial, e também pela facção e o BDM terem um mesmo inimigo em comum, o CV. Mas essa perigosa “dobradinha” pode ter outro efeito. O surgimento de mais uma nova organização criminosa. “Tudo vai depender como as peças serão mexidas nesse tabuleiro. Não foi à toa que a Secretaria da Segurança Pública fez recentemente um acordo com a Polícia Federal, criando uma espécie de força-tarefa, pois a tendência é que haja um agravamento neste cenário de disputas”, comentou o coronel Antônio Jorge.

Um vídeo de quando as casas, muros e estabelecimentos comerciais no Ideal foram pichados com as siglas do BDM e TCP voltou a circular nas redes sociais na semana passada. “A gravação é velha. Fizeram isso agora para acabar com uma festa que iam fazer no final de semana”, disse uma moradora, alegando que o evento terminaria na manhã do dia seguinte.

Apesar de antiga, a gravação viralizou no final de semana dos dias 19 e 20 de agosto e causou temor na cidade. Dias depois, dois suspeitos foram mortos durante a Operação Aila da Polícia Militar em Santo Amaro. Com os criminosos, a polícia apreendeu pistola, revólver, coletes balísticos e R$ 4,8 mil. Os PMs realizavam incursões no bairro da Candolândia, território do BDM / TCP, quando trocaram tiros com dez homens armados.

O comandante da 20ª Companhia Independente (Santo Amaro), major Marcos Davi, nega que o motivo da operação tenha sido o vídeo, justificando que a ação já estava planejada para reprimir a criminalidade na cidade. Questionado sobre a chegada do TCP no município, ele disse não saber. “A gente acompanha a atuação do crime, essa organização que foi citada, não tenho conhecimento da atuação dela aqui na cidade, mas a Secretaria de Segurança Pública vem usando medidas para conter esse avanço do crime aqui no estado”.

Confrontado sobre a existência das siglas, que representam a aliança entre as facções, o comandante disse que “as respostas estão sendo dadas". "Qualquer iniciativa de uma dita organização que tentar ser o estado paralelo será severamente reprimida. O exemplo maior tivemos agora e não vamos parar por aqui”, complementou, fazendo referência ao resultado da operação, que terminou com os dois homens mortos em Candolândia.

Como surgiu o TCP

A facção tem seus primórdios no extinto Terceiro Comando, atuante nas décadas de 1980 e 1990. Alguns líderes do TC naquela época eram os criminosos Zacarias Gonçalves, Zaca Jorge Zambi, Pianinho, Pitoco da Vila Aliança, Robertinho de Lucas, Adilson Balbino, dentre outros.

Em 1998, o Terceiro Comando aliou-se à facção recém-criada Amigos dos Amigos (ADA), ampliando seus domínios. Por volta de 2002, o TCP surgiu a partir de uma dissidência do TC, chegando a coexistir com esta última e o ADA.

Após 11 de setembro de 2002, quando Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, liderou uma revolta no presídio Bangu I, matando alguns rivais, entre eles Uê, um dos líderes da união TC/ADA, Celsinho da Vila Vintém, da facção ADA, que não foi morto durante a rebelião, foi acusado de traição, o que gerou o rompimento definitivo da aliança com o ADA. Assim, os traficantes do quase extinto TC pularam para o TCP e outros para o ADA. Foi nessa cisão que os integrantes da facção decidiram colocar o P de Puro na sigla da facção, realçando que os que continuaram no Terceiro Comando eram criminosos "puros" e "sem mistura".

Após a morte de Robinho no final de 2007, quem se tornou o primeiro homem na hierarquia de Senador Camará, bairro da Zona Oeste carioca, foi o traficante Marcio José Sabino, mais conhecido como Matemático, que assumiu o controle de seus postos de venda de droga até ser morto em uma emboscada em maio de 2012.

Hierarquia

Ao contrário da sua arquirrival, o Comando Vermelho, a facção Terceiro Comando Puro tem uma hierarquia descentralizada. Cada “dono” de comunidade só responde por ela, sem receber interferências de outros líderes da cúpula da facção. O TCP não tem uma hierarquia definida e nem um alto conselho para decisões da facção, e cada dono mantém seu poder na própria comunidade ou naquela comunidade em que ele ajudou a “tomar”.

No cenário de guerra, cada dono cede homens ou armamentos para a empreitada criminosa. No fim, esses donos vão ter suas “fatias” naquela comunidade caso a facção tenha êxito na empreitada.

SSP/BA

O CORREIO procurou a Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA) para saber como a pasta está lidando com a chegada de mais uma facção de fora na Bahia e o que está fazendo para impedir que outras não façam a mesma coisa. Perguntou também se a SSP-BA já vinha monitorando o TCP e quais as consequências que a organização criminosa pode trazer para o cenário violento do estado. A reportagem questionou ainda se a pasta teve conhecimento que uma das lideranças da facção, conhecida como Genaro, esteve em Ilhéus, no litoral sul do estado, para recrutar baianos para a organização. Até a publicação da reportagem não houve resposta.

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Um casal foi atropelado por um veículo enquanto se beijava em uma calçada de São Paulo neste domingo (20). Ambos chegaram a ser levados ao hospital, mas o homem morreu.

Imagens de câmera de segurança mostram que os dois estavam na frente de um posto de gasolina enquanto passeavam com um cachorro. Após o atropelamento, um frentista foi até o local para retirar o motorista do veículo.

Segundo o Uol, o condutor foi preso em flagrante. Aos policiais, o motorista disse que não se lembrava do que havia ocorrido. Ele foi submetido ao teste do bafômetro, que resultou positivo para dosagem alcoólica.

O homem atingido pelo veículo morreu. Já a mulher, de 26 anos, foi levada a um hospital. O estado de saúde dela não foi divulgado.

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Duas semanas antes de ser executada a tiros em Simões Filho na quinta-feira (17), Mãe Bernadete pediu por mais segurança ao Supremo Tribunal Federal (STF) através da Ministra Rosa Weber, com quem esteve em evento no dia 26 de julho. Na ocasião, ela lembrou a falta de resolução no caso do assassinato de seu filho, Binho do Quilombo, em 2017, e relatou ameaças que sofria na região e uma realidade em que vivia 'monitorada'.

"Recentemente, perdi um outro amigo e amiga de quilombo também. É o que nós recebemos: ameaças. Principalmente, de fazendeiros e de pessoas da região. É o que nós recebemos. Hoje vivo assim: não posso sair que tô sendo revistada, minha dela casa é toda cercada de câmera, me sinto até mal com um negócio desse", disse Mãe Bernadete em desabafo para a Ministra.

No Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em Salvador, onde trata da liberação do corpo de Mãe Bernadete, Wellington Pacífico, filho da líder quilombola, lembrou o pedido da mãe. "Ela falou, pediu por mais segurança e eu estava presente no dia. Nós somos perseguidos, as nossas lideranças são mortas. Eu perdi meu único irmão há seis anos e, agora, perco minha mãe da mesma forma, através de execução", falou, expressando revolta com o caso.

A presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, Rosa Weber, se manifestou sobre a morte de Mãe Bernadete e cobrou esclarecimentos. Ela relembrou o encontro que teve com a líder quilombola.

Confira a nota na íntegra:

"Lamento profundamente a morte de Maria Bernadete Pacífico, do Quilombo Pitanga dos Palmares, com quem me encontrei há menos de um mês juntamente com outras lideranças no Quilombo Quingoma, na Bahia.

Mãe Bernardete, que me falou pessoalmente sobre a violência a que os quilombolas estão expostos e revelou a dor de perder seu filho com 14 tiros dentro da comunidade, foi morta em circunstâncias ainda inexplicadas.

As autoridades locais devem adotar providências para o urgente esclarecimento e reparação do acontecido, a fim de que sejam responsabilizados aqueles que patrocinaram o covarde enredo e imediatamente protegidos os familiares de Mãe Bernardete e outras lideranças locais.

É absolutamente estarrecedor que os quilombolas, cujos antepassados lutaram com todas as forças e perderam as vidas para fugir da escravidão, ainda hoje vivam em situação de extrema vulnerabilidade em suas terras. Assim como é direito de todos os brasileiros, os quilombolas precisam viver em paz e ter seus direitos individuais respeitados."

Wellington lembrou ainda que a mãe é figura de liderança nacional para o povo quilombola e travava diversas lutas para defender o direito dos quilombos em Salvador, na Bahia e no Brasil. "Minha mãe é coordenadora nacional dos Quilombos, do Conaq. Ela lutava por recursos, melhorias e direitos dos quilombolas. E toda pessoa que luta dessa forma é eliminada pelo sistema. A história está aí para provar", ressaltou.

O corpo de Mãe Bernadete vai ser liberado no Instituto Médico Legal às 10h30 dessa sexta-feira. Ela vai ser velada no Quilombo Pitanga de Palmares durante a noite e a madrugada, sendo sepultada no início da manhã no quilombo.

Investigação

Equipes das polícias Militar, Civil e Técnica estão em diligências para investigar o assassinato da ialoxirá e líder quilombola Mãe Bernadete. A informação foi divulgada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), nesta sexta-feira (18).

Na nota, a SSP informa que "após tomarem conhecimento do fato, iniciaram de imediato as diligências e a perícia no local para identificar os autores do crime". A secretaria pede que pessoas que tenham pistas sobre os autores informem à polícia, em sigilio, através do telefone 181.

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A delegada Andréa Ribeiro, diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), disse em coletiva nesta sexta-feira (18) que dois homens estão sendo procurados pela morte de Mãe Bernadete, executada ontem à noite em Simões Filho. A polícia ainda não sabe se há câmeras que podem ajudar na investigação, mas está à procura.

A delegada diz que a Polícia Civil ainda não tem conhecimento sobre o programa de proteção que Mãe Bernadete fazia parte. "Se por ventura ela integrava algum programa de proteção à testemunha isso será trazido aos autos e levado em consideração na investigação",

Ela diz também que a busca de imagens que possam ajudar na investigação é algo rotineiro em casos de homicídio. "Nesse momento não tenho informações que a gente já tem imagens sendo analisadas, mas nossas equipes já estão em busca disso, dessas imagens, desse possível trajeto que foi feito pelos executores. Informação que temos é que o crime teria sido cometido por duas pessoas a bordo de uma motocicleta", explica.

A delegada falou da possibilidade do crime ter ligação com conflitos por terra - a líder quilombola vinha sofrendo ameaças, segundo advogado da família, por parte de pessoas envolvidas em extração ilegal de madeira. "A gente não descarta essa hipótese, assim como não descarta a hipótese de ameaça, ou outras que possam estar relacionadas à atuação do tráfico de drogas na localidade". Ela também disse que não é possível falar no momento se houve relação do crime com intolerância religiosa.

Ela garantiu que a Polícia Civil está focada na investigação. "A vítima era uma pessoa querida na comunidade. Desempanhava papel importante naquela comunidade quilombola. Infelizmente foi brutalmente assassinada dentro de sua residência, uma senhora de 72 anos. Todos os esforços estão sendo feitos para dar uma resposta o quanto antes".

Mãe Bernadete foi morta com uma arma de calibre 9mm. Ela foi assassinada na presença de familiares.

Ameças

Mãe Bernadete sofria ameaças constantes. As mais recentes, segundo o advogado da família David Mendez, eram relacionadas à extração ilegal de madeira na área do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, que está em uma Área de Proteção Ambiental (APA).

"As mais recentes ameaças diziam respeito à extração ilegal de madeira. Lá é uma APA e dentre as muitas brigas que Dona Bernadete capitaneava, ela era uma espécie de delegada da comunidade, com autoridade moral. Então ela não deixava que nenhuma bandidagem ou que nada eerrado se criasse. Ela batia de frente com facção criminosa, batia de frente com extração ilegal", disse o advogado.

Ele ressaltou ainda que a líder atuava "no vácuo do poder público". "Caberia a ela esse papel? Uma senhora de 72 anos? Ou caberia à Polícia Militar, Secretaria de Segurança Pública? Porque ela fazia isso no vácuo do poder público", questionou.

Ainda segundo ele, Mãe Bernadete tinha uma medida protetiva,executada pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do estado, desde que o filho Flávio Pacífico foi morto em 2017, mas que a segurança tinha falhas. "Só que era uma proteção falaciosa. Como é uma proteção sem polícia militar? Sabe como era a proteção? Uma viatura ia lá em horário indeterminado, às vezes de manhã, às vezes de tarde, e falava: "Oi, dona Bernadete, tudo bem com a senhora?". Uma proteção para inglês ver", reclamou.

O CORREIO entrou em contato com a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos para saber detalhes sobre essa medida protetiva citada pelo advogado, mas não recebeu retorno até a publicação desta matéria.

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