Hélio Viana percorreu 220 km entre ida e volta no trajeto Imbassaí-Catu. Fiel da Paróquia de São Francisco, ele conduziu nesta quinta-feira (23) um dos veículos com pessoas protestando pela volta do padre Fernando de Almeida Silva, que foi aconselhado pela Diocese de Alagoinhas a renunciar do cargo sacerdotal na Paróquia Sant'Ana de Catu após permitir que fiéis leigos (aqueles que não são padres, bispos ou o próprio papa) fizessem a oração eucarística. A atitude é considerada uma falha grave pelos dogmas católicos. E a punição foi considerada desproporcional pelos fiéis.
Hélio conviveu com Fernando por 11 anos, período em que ele liderava comunidades católicas em Mata de São João. No município, ele era pároco na Igreja São Francisco do Litoral, em Praia do Forte, mas também tinha forte participação em outras localidades como Porto de Sauípe, onde ajudou a transformar a Igreja de São Sebastião em paróquia antes de ser transferido para Catu.
“Ele fez um trabalho muito importante, uma missa alegre, que trazia os jovens para a igreja. Um trabalho lindo, espetacular. Quando ele saiu, deixou muita saudade. Assim que soubemos dessa injustiça que foi cometida contra ele, nos juntamos para apoiar o povo de Catu e a esse homem de Deus que tanto fez por nós”, disse Hélio.
Fundador do Grupo Jovem da Paróquia de São Sebastião, em Porto de Sauípe, Alberto Júnior foi outro a sair do Litoral Norte baiano rumo a Catu para participar da carreata. Ele fez questão de agradecer ao padre Fernando pelo trabalho feito na região.
Os manifestantes ficaram concentrados na porta da Igreja Nossa Senhora Sant'Ana pedindo a volta do pároco às atividades no município. A manifestação teve estouro de fogos de artifício, buzinas e cartazes com a frase e hashtag #SomosTodosPadreFernando.
Coordenadora da paróquia em Mata de São João, Célia Laudana afirmou que Fernando “é um padre de verdade, comprometido com a obra da Igreja Católica e com Deus” e que a igreja deveria rever o seu posicionamento.
Fiel catuense, Wilza Sena contou que não existe motivo para um afastamento tão abrupto. “Ele pediu perdão. E outra coisa, tem mostrado fidelidade, honra e dignidade no trabalho. É uma pessoa de respeito. Íntegro e devoto. Por que tirar o padre por uma falha? Uma batina? Padre Fernando precisa voltar para dar continuidade ao trabalho grandioso que tem feito em Catu”, disse a devota.
Comerciante, fiel e um dos organizadores da mobilização em prol do padre, Augusto Gomes afirmou que a expectativa era de que 300 carros participassem da carreata, mas a forte chuva em Catu acabou afastando algumas pessoas, que, como os grupos de Mata de São João, sairiam de outras cidades.
"De qualquer maneira, o recado está dado. Nós queremos que o padre Fernando volte para retomar o belo trabalho que fazia aqui na cidade. A Igreja é para perdoar. Ele não matou, não roubou, muito pelo contrário, revolucionou a Igreja. Trouxe estrutura, alegria e aproximou as pessoas".
A Diocese de Alagoinhas se manifestou em nota assinada por seu administrador Diocesano, o padre Antônio Ederaldo de Santana. No ofício, afirma que aceitou a carta de renúncia do Pe. Fernando por precaução e negou as acusações de induzir ou obrigá-lo a pedir sua saída da Paróquia. A Diocese também diz que não faltou com misericórdia com o padre, alegando que ele segue recebendo um "honesto sustento, conforme a realidade econômica da nossa Diocese".
"Aceitamos assim, a sua saída da Paróquia por ad cautelam (como precaução), a fim de averiguar melhor a situação na qual se envolveu, oferecendo-lhe o devido acompanhamento e dando-lhe a chance de apresentar a sua defesa no momento oportuno, conforme o procedimento estabelecido pelo ordenamento canônico nestes casos", diz a nota.
Segundo a Diocese, o ato do Pe. Fernando em permitir que leigos assumissem a Liturgia Eucarística transgrediu o teor do cânon 1384 do Código de Direito Canônico e causou "escândalo à comunidade católica em sua universalidade, visto que tal atitudo do referido Sacerdote, foi transmitida em rede social". Leia a íntegra da nota no final da reportagem.
Entenda o caso
Padre Fernando foi afastado porque permitiu que fiéis leigos fizessem a oração eucarística no dia 22 de agosto de 2021. Houve uma denúncia da atitude tomada pelo padre que chegou até os bispos da região e, também, para o administrador diocesano de Alagoinhas, atualmente sem bispo.
A diocese entrou em contato com o padre e o aconselhou a renunciar porque manter o sacerdote na paróquia com o processo em andamento poderia acarretar numa possível exclusão do exercício do sacerdócio. Ou seja, ele deixaria de ser padre.
Nota da Diocese
"A Diocese de Alagoinhas, vacante desde o dia 19 de março de 2021, tendo o seu Bispo diocesano, Dom Paulo Romeu Dantas, sido transferido pelo Papa Francisco, para a Diocese de Jequié-BA, passou a ter como governo diocesano um administrador, conforme os cânones 424-430. Assim sendo, assumi, portanto, a função de Administrador diocesano desta Diocese, tornando-me resposável pelo bom andamento dos trabalhos pastorais realizados nas nossas comunicades eclesiais, inclusive cabendo a mim, a manutenção da ordem e da disciplina eclesiástica até a chegada do novo Bispo diocesano.
Em 22 de Agosto de 2021, o Reverendíssimo Pe. Fernando, até então, Pároco da Paróquia Senhora Santana, em Catu-BA, celebrou a Santa Missa, naquele domingo, convidando leigos a assumirem funções, na Liturgia Eucarística, de exclusiva competência dos que gozam do Ministério Sacerdotal, ou seja, Bispos e Presbíteros. Consequentemente, tal atitude transgrediu o teor do o cânon 1384, do Código de Direito Canônico, causando escândalo à comunidade católica em sua universalidade, visto que tal atitudo do referido Sacerdote, foi transmitida em rede social.
Diante disso, o Reverendíssimo Pe. Fernando, consciente das consequências de seu ato, por respeito e fidelidade a doutrina da Igreja sobre a Santíssima Eucaristia e zelo pelo seu sacerdócio ministerial, no dia 31 de agosto de 2021, apresentou a renúncia do seu ofício de Pároco da Paróquia Senhora Santana, em Catu-BA, a mim, Administrador diocesano desta Igreja Particular de Alagoinhas-BA. Poderadamente, para que se evitasse um mal maior ao Sacerdote e à comunidade católica, aceitei sua renúncia e a Diocese se colocou à disposição para ajudá-lo no que fosse preciso. Logo, em nenhum momento o Reverendíssimo Pe. Fernando, foi induziddo, coagido ou obrigado a renunciar. Nem tampouco, o nosso irmão no sacerdócio, foi tratado pela Igreja sem misericórdia. Isso é comprovado pelo compometimento em ajudá-lo por meio de um honesto sustento, conforme a realidade econômica da nossa Diocese. Aceitamos assim, a sua saída da Paróquia por ad cautelam (como precaução), a fim de averiguar melhor a situação na qual se envolveu, oferecendo-lhe o devido acompanhamento e dando-lhe a chance de apresentar a sua defesa no momento oportuno, conforme o procedimento estabelecido pelo ordenamento canônico nestes casos."
Nota assinada pelo Pe. Antonio Ederaldo de Santana, administrador Diocesano; e Pe. Carlos Alberto da Conceição, chanceler.