Sábado, 27 Abril 2024 | Login
"Perdi tudo que construí", diz vítima de deslizamento de terra na Baixa do Fiscal

"Perdi tudo que construí", diz vítima de deslizamento de terra na Baixa do Fiscal

Por oito horas, a comunidade da rua Coronel Pedro Ferrão Costa, na Baixa do Fiscal, chorou. Por oito horas, o que se ouviu foram gritos de desespero. Por oito horas, o Dia das Mães virou pesadelo. Até que, quando não havia mais esperança, quando os bombeiros estavam exaustos e o que se esperava era a retirada debaixo da terra do corpo da última vítima, alguém gritou bem do meio dos escombros: “Ele tá vivo!”.

Eram cinco casas destruídas e três pessoas mortas. Em meio ao caos, depois de ficar soterrado por mais de oito horas, depois perder a mãe e tio no mesmo local, Lucas Silva Santana, 14 anos, ainda respirava. A dor, então, deu lugar à expectativa. Um funcionário do Samu informou que ele chegou a balbuciar algumas palavras antes de ser colocado na ambulância com batimentos cardíacos estavam normais.

11-05-15-perdi-tudo-que-construi-diz-deslizamento-de-terra-na-baixa-do-fiscal2.jpg

A população aplaudiu a equipe de resgate, parentes se abraçaram emocionados. “Esse pivete é guerreiro mesmo”, comemorou o irmão do adolescente, Humberto Santana dos Santos, 18 anos. Os bombeiros acharam que foi milagre. “Coisa de Deus, amigo. Não sei de onde ele tirou oxigênio. Era terra para tudo quanto é lado”, disse o bombeiro Marcos Soares. Às 23h, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) informou que Lucas passava por uma tomografia no Hospital do Subúrbio e não corria risco de morte.

A terra deslizou na Baixa do Fiscal por volta das 12h20 e cinco casas ficaram completamente destruídas. Às 16h10, o corpo de Delcik Barreto Venas, 64 anos, foi retirado do barro. O filho dele ainda tinha esperanças de encontrar o pai com vida. “A esperança é que aconteça um milagre”, disse Messias de Jesus Venas. O milagre ocorreu, mas três horas mais tarde.

Às 17h15, Sandra Silva Santana, 37 anos, mãe de Lucas, foi encontrada sem vida. “Eu quero ver minha mãe!”, gritava desesperadamente um dos seis filhos da lavadeira. O marido dela e padrasto de Lucas, o pedreiro Cícero Gomes, 48, estava com ela em casa minutos antes. “Mas, meu irmão me chamou pra fazer um serviço”, explicou. Às 19h, Sival Silva Santana, 28 anos, irmão de Sandra, foi encontrado morto.

Outros imóveis da rua também foram atingidos e ficaram parcialmente destruídos. Em dois deles quatro pessoas de uma mesma família ficaram feridas. A dona de casa Maria Aparecida Américo Gama, 48; seu filho, Everson Gama Gomes, 22; e a esposa dele, Patrícia Gama Gomes, além do filho do casal, Adriel, de 3 anos, ficaram feridos. Levados para o Hospital Ernesto Simões, nenhum deles corria risco de morte - tinham ferimentos pelo corpo.

“Perdi tudo que construí. Mas pelo menos minha família está viva”, disse Aparecido Gomes, marido de Aparecida, pai de Everson e avô de Adriel. Sua oficina ficou completamente destruída. A família inteira está no andar de cima. Ao lado da oficina, a sorveteria de Hamilton Silva Couto, 45 anos, também foi destruída pela força da terra. Ele chegou a abrir de manhã, mas fechou as portas com medo de deslizamentos. Aliás, outro deslizamento menor já havia ocorrido mais cedo e não deixou vítimas. “Eu vi aquela água barrenta descendo e chegando na rua. Resolvi fechar”. 

Todos os feridos foram salvos por moradores, antes da chegada dos bombeiros. Alguns deles não morreram por um detalhe. “A gente ia passar o dia da mães em casa, mas um vizinho nos chamou para almoçar. Foi a salvação”, disse o coletor Rosivaldo Santana dos Santos, que cavou com as próprias mãos para resgatar os amigos.

Depois disso, moradores se juntaram usando baldes para retirar o máximo de barro até a chegada dos bombeiros. A primeira informação era de que havia seis pessoas sob a terra. Depois, confirmou-se que eram quatro. Às 20h40, o capitão Erenildo Costa, do Corpo de Bombeiros, encerrou a operação.

Fonte: IBAHIA.COM

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.