Sábado, 27 Abril 2024 | Login
Médicas denunciam fraudes em laudos médicos de pacientes do Hospital Santo Amaro

Médicas denunciam fraudes em laudos médicos de pacientes do Hospital Santo Amaro

Passar por um exame de imagem e, por fim, receber um laudo médico fraudulento sobre o resultado. Essa pode ser a situação de dezenas de pacientes do Hospital Santo Amaro, de Salvador. Isso porque duas médicas denunciaram à Polícia Civil da Bahia (PC) um esquema de fraudes em laudos da instituição que eram atribuídos a elas sem que as profissionais tivessem qualquer contanto com os exames.

Os exames, que têm como exemplo tomografias e mamografias, eram realizados no Santo Amaro. Porém, a Qualy Medicina Diagnostica, terceirizada do hospital, era responsável por contratar médicos para analisar as imagens e produzir diagnósticos a partir delas. Uma das médicas denunciantes chegou a prestar serviço para empresa por 15 dias em 2022.

Porém, descobriu que, após isso, utilizaram sua assinatura em outros laudos. "Ainda em novembro, eu desisti por não ter tempo o suficiente. Falei que ia parar e não entrei mais na plataforma. No fim de maio, uma amiga que trabalha no Santo Amaro me ligou para saber mais sobre tele laudos porque viu uma tomografia laudada por mim. Ali eu percebi a fraude", conta a médica, que prefere não se identificar.

A outra vítima nem teria chegado a prestar serviço para a Qualy, mas cadastrou os dados e a assinatura na plataforma de tele saúde. Foi o suficiente para que também tivesse suas informações utilizadas para outros laudos fraudulentos de exames feitos no Hospital Santo Amaro. As médicas contataram o hospital, mas não tiveram retornos. Uma pessoa de dentro do hospital chegou a dizer que se tratava de um 'erro bobo'.

"Em contato para questionar, disseram que era um 'erro bobo'. Porém, depois, as médicas descobriram dezenas de laudos fraudados com seus dados que estavam na plataforma. [...] Tive acesso a 30 laudos que foram fraudados com o nome delas. Porém, não temos dimensão se isso pode ter ocorrido em muitos outros casos", fala Guilherme Teixeira, advogado da Teixeira & Carvalho Advocacia, que representa as médicas. A possibilidade de que o número de fraudes seja muito superior a 30 laudos é evidente para uma das vítimas.

"No momento em que eu falei que não era meu, a minha amiga do hospital comunicou o pessoal de lá e estranharam a situação. Disseram que era grave porque todos os dias tinham exames laudados com meu nome lá. Então, a gente não tem ideia da proporção. Se são centenas, se estão em outros hospitais, talvez até em outros estados", fala a médica.

A Fundação José Silveira, que administra o Hospital Santo Amaro, foi procurada pela reportagem e afirmou ter interrompido o trabalho em parceria com a Qualy. "Assim que procurado, o hospital solicitou que fossem encaminhadas todas as informações para apuração, tendo realizada a suspensão do contrato com a empresa de tele saúde, até esclarecimento dos fatos", escreve através de nota.

O responsável pela Qualy Medicina Diagnostica também foi procurado, mas não respondeu até o fechamento desta matéria. No entanto, a empresa vai ser procurada pela polícia. "A 7° Delegacia Territorial/Rio Vermelho investiga o crime de estelionato denunciado por duas médicas, ocorridos por uma empresa de exames de imagens. [...]. O proprietário da empresa será intimado para prestar esclarecimentos", informa a PC.

Sem respostas

O Ministério Público do Estado da Bahia (MPE-BA) foi acionado pelas vítimas, acompanha o caso e aguarda a conclusão do inquérito policial. O Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb-BA) também foi acionado. Além de confirmar que acompanha o caso, sinalizou que uma terceira vítima procurou o conselho para denunciar a fraude.

A denúncia feita às autoridades competentes ocorreu depois de diversas tentativas de contato e resolução com o hospital e a empresa terceirizada, de acordo com uma das médicas. "Tentamos contatos de diversas formas, tanto eu como minha colega, e não conseguimos resolver. Ficamos desesperadas porque não temos a dimensão de quantos laudos foram fraudados e quantas pessoas estariam em risco por conta disso", fala ela. Guilherme Teixeira diz que, por conta dessa preocupação, fez três reivindicações ao hospital.

"A primeira foi o cessar imediato do uso dos dados delas e os laudos que não produziram. A segunda seria a imediata revisão de todos os laudos dos hospital, já que outros poderiam estar fraudados. E a terceira, por fim, era uma nota pública que detectaram os laudos ilegítimos e que o hospital assumiria as responsabilidades decorrentes deles", diz o advogado.

Ainda segundo Teixeira, nenhum desses pedidos teria sido atendido. Questionada sobre isso, a Fundação José Silveira afirma pelo menos ter revisado os laudos. "Recebida a notícia, o hospital tratou de solicitar a análise técnica dos laudos por outro profissional habilitado, tendo sido confirmados como corretos os seus resultados", destaca a assessoria.

A defesa das médicas, porém, vai ajuizar uma ação indenizatória contra o hospital e pretende ainda acionar o Ministério Público Federal (MPF) para investigar a possibilidade de fraude em outros estados.

Itens relacionados (por tag)

  • Lares não são mais seguros: 162 foram baleadas em casas em Salvador e RMS

    O tiro que matou o pedreiro Rui Antônio da Silva, de 61 anos, atravessou também todas as pessoas de sua família. “Era o nosso pilar, nossa referência. Ele foi abatido onde achava que estava seguro dessa violência”, declarou a filha do idoso, a atendente de telemarketing Paula Andrade, 30. O pai dela estava em casa, no bairro do Alto do Coqueirinho, quando foi atingido no abdômen, após o imóvel ter sido arrombado por policiais militares na madrugada do dia 04 de março deste ano. De janeiro até o dia 18 deste mês, 162 pessoas foram baleadas dentro de residências em Salvador e Região Metropolitana, das quais 146 morreram. Os dados são do Instituto Fogo Cruzado (IFC).

    “Minha madrasta, Maria das Graças, estava com o meu pai na hora. Ela contou que ele acordou assustado com a porta arrombada e levantou para ver o que estava acontecendo, foi quando o policial entrou atirando. Ela disse aos PMs que meu pai era traficante, que não era quem eles procuravam”, declarou Paula. Os policiais coloraram o pedreiro numa viatura e o levaram ao Hospital Roberto Santos, no /Cabula. Eles não permitiram que Maria das Graças fosse junto. Depois de ir a quatro unidades de saúde, a esposa encontrou o marido já morto. A apuração do IFC aponta 16% das ocorrências foram durante ações e operações policiais. Ou seja, 26 em que 24 pessoas vieram a óbito.

    Maria das Graças denunciou a ação desastrosa na Corregedoria da Polícia Militar. Lá, ela foi informada que o policial atirou porque Rui partiu para cima com “arma branca”. “Não houve isso! O PM entrou atirando e só depois pediu para que a luz fosse ligada. Foi aí, que percebeu que tinha baleado um idoso e não um jovem, como eles estão acostumados a fazer”, disse Paula, que luta para que o caso seja investigado pelo Departamento de Homicídio e Proteção a Pessoa (DHPP), da Polícia Civil. “Até agora não tivemos uma resposta da Corregedoria. Nosso advogado vai lá e mandam a enviar e-mail, que nunca respondem”, criticou a filha da vítima.

    De acordo com o levantamento do IFC, o bairro que lidera o maior número de ocorrências é Tancredo Neves, com oito baleados dentro de casa, sendo que apenas uma pessoa sobreviveu, José Pedro Nascimento dos Santos, de apenas seis anos. Ele estava no sofá quando atingido. A bala passou pelo vidro, furou a cortina, atingiu o garoto de raspão e foi parar na parede da residência, na rua Isaias de Oliveira, no dia 31 de março.

    Segundo a família da criança, os tiros foram disparados durante uma perseguição policial, quando um homem passou correndo pela rua e a polícia passou, logo em seguida, disparando na direção dele. A criança foi levada para uma unidade de saúde pela família e levou quatro pontos no braço.

    Os dados do IFC apontam Cosme de Farias como o segundo bairro do ranking, com seis baleados – cinco mortos e um ferido –, mas foi em Mata Escura um dos casos de maior repercussão em Salvador no mês de outubro. Nas primeiras horas do dia 01, duas pessoas de uma mesma família, entre elas uma criança, morreram após um "bonde" (grupo de homens armados) invadir uma casa na Rua das Mangueiras. Sarah Sofia Santana de Jesus, de apenas seis anos, foi baleada na cabeça. Chegou a ser socorrida, mas não resistiu.

    Os criminosos estavam atrás do enteado da mãe dela, que consegui escapar. "Ele tinha envolvimento. Quando percebeu que os caras estavam chegando, correu. A gente não sabe se ele morava lá também ou se estava só de passagem", relatou na ocasião o parente da criança, que preferiu não se identificar.

    O crime aconteceu na localidade conhecida como Inferninho. De acordo com moradores, a região é controlada pelo Bonde do Maluco (BDM), que disputa a liderança do bairro com o Comando Vermelho (CV). No ataque, padastro de Sofia, o eletricista Adalto Guedes, 53, foi atingido duas vezes, sendo que um dos tiros atingiu a barriga. Ele morreu no dia seguinte no Hospital Geral do Estado (HGE). Em relação às mortes, a PC disse que a investigação “está em andamento na 2ª Delegacia de Homicídios (DH/Central), onde ocorrem oitivas, detalhes não serão divulgados para não atrapalhar a investigação”.

    RMS

    No ranking das ocorrências, entre a terceira e a sexta posição estão localidades da RMS, a exemplo da localidade de Núcleo Colonial JK, zona rural de Mata de São João, que ocupa a quarta posição. Isso porque, no dia 28 de agosto, aconteceu uma chacina, em duas casas da mesma rua. Cinco das nove vítimas foram baleadas – os demais os corpos foram encontrados carbonizados.

    Segundo a polícia, quatro homens entraram em uma casa para matar um alvo, identificado como Preá. Eles atiraram nas pessoas e depois atearam fogo no imóvel. Um adolescente, que escapou do ataque, buscou ajudar na casa vizinha. Quando abriram a porta para ajudá-lo, duas mulheres foram baleadas pelos criminosos.

    De acordo com as investigações, a matança foi motivada por ciúmes. O mandante do crime matou familiares da atual namorada dele, além do ex-namorado dela, Preá.

    Foram quatro suspeitos envolvidos na chacina. Dois deles morreram em confronto com a polícia dias depois em Mata de São João – um dos mortos seria o mandante e executor do crime. Um terceiro suspeito foi preso, mas não teve o nome divulgado. Ele confessou a participação nas mortes . Ainda na ocasião, um quarto homem conseguiu fugir durante a ação e era procurado na região. Atualmente, a PC informou que o inquérito já foi concluído e remetido ao Judiciário.

    Especialistas

    Em seu entendimento, o especialista em segurança pública, o coronel Antônio Jorge, coordenador do curso de Direito do Centro Universitário Estácio FIB da Bahia, atribuiu a dois fatores que impulsionam os dados do IFC. “Quando ocorrem esses ataques dentro de residências, normalmente’ têm duas fundamentações: ou se trata de violência doméstica ou de execução, porque os autores saem em busca daquelas pessoas. É muito comum essa questão do tráfico de drogas, porque, quando alguém está em débito ou pratica alguma ação, que a facção entende que deve ser punido de forma exemplar, eles (traficantes) não medem esforços”, explicou.

    Membro da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, Dudu Ribeiro, complementa a discussão ao apontar as ações “ extrajudiciais, promovidas por agentes do Estado”. “É também um sintoma importante de que a inviolabilidade do lar dos cidadãos negros e negras das regiões periféricas não é respeitado pelos agentes do Estado e ele não é cobrando pela justiça. Se a gente tem um sistema que concorda com a invasão de domicílios e um modelo de segurança pública que promove a lógica da ocupação dos territórios e da produção de muitos eventos de tiroteios, a gente vai ter também essa violência os lares das pessoas”, declarou Ribeiro.

    Posicionamentos

    O CORREIO questionou a Polícia Civil sobre os números do levantamento do IFC, se a quantidade de pessoas mortas e feridas dentro de residências é um indicativo de que o baiano não está seguro nem dentro de sua própria casa. “Não comentamos dados não oficiais”, respondeu a PC em uma nota. A mesma pergunta foi realidade a Secretaria de Segurança Pública (SSP), através do e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. e também à Polícia Militar, no e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. . Os pedidos foram realizados dia 20 deste mês, mas até o momento não tivemos resposta.

  • Áudio enviado por morador a traficantes teria motivado morte de Mãe Bernadete

    Um desentedimento com Mãe Bernadete levou Sérgio Ferreira de Jesus, 45 anos, morador do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, a mandar áudios aos traficantes de drogas da região, instigando para que eles executassem a líder quilombola. Segundo a Polícia Civil, ele praticava extração ilegal de madeira no território quilombola e teve uma discussão com a líder quilombola.

    Após o episódio, ele enviou um áudio aos traficantes dizendo que Mãe Bernadete ia acionar a polícia para derrubar uma das barracas que ficava no quilombo e ia denunciar o tráfico no local. O áudio motivou Ydney Carlos dos Santos de Jesus, 28 anos e Marílio dos Santos, 34 anos, a planejarem o crime.

    O crime foi praticado por Arielson da Conceição Santos, 24 anos, e Josevan Dionísio dos Santos, 26 anos. Ao todo, seis pessoas foram indiciadas, inclusive um homem que guardou as armas usadas no crime e ajudou Arielson a fugir após o crime. Entenda a participação de cada um deles aqui.

    Segundo a polícia, Sérgio também facilitou a entrada dos autores no imóvel. Após o crime, um dos envolvidos facilitou a fuga de um dos atiradores e guardou as armas utilizadas no homicídio.

    Entre os seis envolvidos, dois encontram-se com mandados de prisão em aberto e, portanto, foragidos. Outro teve a prisão solicitada ao Poder Judiciário. O executor ainda não localizado é fugitivo do sistema prisional e tem condenação por homicídios cometidos em Simões Filho e Madre de Deus.

    A polícia continua fazendo diligências para localizar os foragidos. Para colaborar, a população pode fornecer informações sem precisar se identificar, para o Disque Denúncia da Secretaria da Segurança Pública (SSP), ligando 181.

  • Quinta empresa passa por testes em bodycams na SSP-BA

    Ao longo desta segunda-feira (13) e também na terça-feira (14), testes práticos e o acompanhamento do sistema interno de câmeras corporais estão sendo realizados por integrantes da empresa, esta é a quinta classificada para viabilizar as bodycams e é avaliada por uma comissão, no Centro de Operações e Inteligência (COI). A Secretaria da Segurança Pública iniciou na manhã desta segunda-feira (13), a terceira Prova de Conceito (POC) das câmeras corporais.

    Especialistas das Superintendências de Gestão Tecnológica e Organizacional (SGTO) e de Gestão Integrada da Ação Policial (Siap), além de profissionais das Polícias Militar e Civil, de outras empresas candidatas, do Ministério Público Estadual, da Procuradoria Geral do Estado, da Defensoria Pública do Estado e de movimentos sociais acompanham a POC diretamente do Centro Integrado de Comando e Controle (CICC).

    “Nosso trabalho é acompanhar essa nova fase com atenção para garantir que tudo ocorra bem, conforme o edital pede. Estamos atentos a tudo o que é apresentado por essa nova empresa”, detalhou o major Jurandilson Nascimento, diretor de Videomonitoramento da SSP, em nota.

    Anteriormente, duas empresas não atingiram o que foi solicitado ainda na fase de apresentação da documentação, enquanto as outras duas passaram pela Prova de Conceito realizada, mas, por apresentarem inconsistência nas imagens geradas pelos equipamentos foram reprovadas.

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.