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Quatro pessoas são assassinadas em meio a disputa do tráfico no bairro de Valéria

Quatro pessoas são assassinadas em meio a disputa do tráfico no bairro de Valéria

Mesmo segurando uma bíblia, testemunha de sua fé, o pedreiro não conseguiu domar a dor que lhe consumia no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR). "Na minha terra, as pessoas costumam morrer de velhice. Os filhos enterram os pais. Mas hoje estou sentindo a pior dor da minha vida", declarou, emocionado, Eronilson da Silva, 55 anos, natural da cidade de Teodoro Sampaio, pouco depois de reconhecer o corpo do filho, Edilson Ferreira da Silva, 28, na manhã desta quinta-feira (4). Edilson tinha saído da prisão há dois anos. Ele e outros três foram vítimas de uma quarta-feira (3) violenta no bairro de Valéria, em Salvador.

Todos quatro foram mortos a tiros em regiões do bairro onde atualmente está acirrada a disputa entre as facções Katiara e Bonde do Maluco (BDM) pelo controle total do tráfico de drogas. Em nota, a Polícia Civil informou que a Secretaria da Segurança Pública (SSP) determinou que os Departamentos de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) atuem em conjunto e com celeridade nessas quatro ocorrências, que, segundo apuração inicial, têm relação com o tráfico de drogas. "Informa ainda que a PM reforçará o patrulhamento no bairro de Valéria", diz a nota.

Apesar de a polícia afirmar que todos os mortos estão relacionados diretamente com a guerra do tráfico, moradores de Valéria disseram ao CORREIO que pelo menos uma das vítimas foi baleada pela Polícia Militar, acionada para atender uma das ocorrências anteriores. Leandro Queiroz da Silva, 20, voltava para casa quando uma guarnição teria chegado atirando na Rua Leão Diniz.

Ainda segundo os moradores, o bairro está em guerra desde novembro do ano passado, quando o traficante Jho, integrante da Katiara, foi sequestrado e morto por homens armados ligados ao BDM.

Dor
O desejo do pedreiro Eronilson era de que o filho, Edilson, seguisse seu ofício. "Estava preparando para tirá-lo daqui, levá-lo para São Paulo, junto comigo, para trabalhar como meu ajudante. Mas ele não queria, infelizmente. Fui criado na roça e nunca me envolvi com drogas. Dei tanto conselho, falei tanto, mas preferiu o outro lado, fazia parte de grupo que mexe com drogas", contou o pai, que mora em Narandiba. Ele disse que o filho estava numa padaria quando dois homens desceram atirando na Rua Nova Brasília, por volta das 19h desta quarta - segundo moradores, o local é território da Katiara.

Edilson morava com a mulher a poucos metros do local onde foi morto. A mãe dele, a dona de casa Ana Lúcia Gonçalves da Paixão Ferreira, 45, reside no mesmo bairro, mas não soube dar detalhes sobre o crime. "Eu não estava lá, por isso, não sei de nada", respondeu. Ela não soube dizer por qual crime o filho cumpriu pena na prisão por dois anos. "Nem me lembro", disse ela. Questionada sobre o comportamento do filho, a mãe disse que deu conselhos. "A gente fala, mas filho não ouve. Cansava de dizer pra ele não andar com gente envolvida, mas era a mesma coisa que nada", declarou.

Eronilson disse que é pai de outros três filhos com Ana Lúcia. Eles também têm envolvimento com o tráfico. "Cada um carrega a sua cruz e eu ainda tenho mais três", desabafou.


Além de Edilson, as outras vítimas foram Jadson Alan Souza Damascena, 20, morto na Rua Penacho Verde, por volta do meio-dia. O tráfico de drogas no local é controlado pela Katiara. Não há informações sobre as circunstâncias do crime. Pouco depois das 22h, foi encontrado o corpo de um homem ainda não identificado no Caminho 15, após o Atacadão, região dominada pelo BDM. Também não há detalhes de como foi a morte.

Já no caso da morte de Leandro Queiroz da Silva, ocorrida pouco depois das 21h30, na Rua Leão Diniz, onde o comando é do BDM, moradores relataram que o rapaz trabalhava fazendo pães numa padaria da região e que, ao voltar para a casa, deu de cara com uma guarnição da PM. "A polícia chegou atirando e ele ficou parado, porque não devia nada, era trabalhador. Mas aí os policiais atiraram nele. Mesmo ferido, ele correu, mas caiu morto. Ele era uma pessoa de bem. Ninguém tinha o que falar dele", contou uma mulher que conhecia a vítima, que morava na Rua Boca da Mata.

A reportagem foi até a padaria apontada como o local de trabalho de Leandro. Funcionários disseram que ele não era padeiro, que vez ou outra fazia uns serviços de entrega de pães. Relataram ainda que o rapaz já não aparecia há quase um mês. Outros moradores sinalizaram que há um mês Leandro passou a andar com um grupo de rapazes ligados ao tráfico.


Posicionamento
Segundo a PM, de acordo com informações da 31ª CIPM (Valéria), por volta das 21h45, guarnições da unidade foram acionadas para atender a ocorrência de homicídio na Rua Leão Diniz. No local, os policiais militares acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constatou o óbito de um homem por disparos de arma de fogo. "A área foi isolada, e o Silc, acionado para realizar a perícia e remoção do corpo. As circunstâncias serão investigadas pela Polícia Civil", diz a nota.

A PM também se posicionou sobre os outros casos. Sobre a morte de Edilson, filho do pedreiro Eronilson, a nota diz que "por volta das 19h12, guarnições da unidade foram acionadas para atender a ocorrência de homicídio na Rua das Palmeiras, Nova Brasília de Valéria". No local, a guarnição constatou que havia um homem de 28 anos morto a tiros. Já o crime que resultou na morte de Jadson, os PMs foram acionados pelo Cicom para atender a uma ocorrência de homicídio na Rua Penacho Verde e, no local, constataram o fato. A mesma situação se aplica ao corpo encontrado no Caminho 15. A única diferença é que a vítima também apresentava ferimentos com arma branca.

Reforço
A guerra entre a Katiara e o BDM foi acirrada com a morte do traficante Jho. "Ele tinha acabado de sair do mercado e ia levar as compras para mulher, mas resolveu parar num bar e tomar umas. Foi quando dois homens pegaram ele e o botaram no carro", contou uma jovem. Jho estava no Penacho Verde, área de atuação da Katiara, quando foi sequestrado por integrantes do BDM da Palestina, que também atua em algumas localidades de Valéria.

"O corpo dele foi encontrado na BR. Desde então, o bairro vive em guerra. É tiro toda hora. A gente não consegue ficar em paz. Eles passam atirando a qualquer hora do dia ou da noite e a gente vê a hora de ser encontrada por uma dessas balas. Tem gente que já abandonou a casa. Se a situação não melhorar, vou largar tudo e ir para o interior", disse a moradora.

Ainda na manhã desta quinta, o CORREIO circulou em Valéria e constatou algumas viaturas do Batalhão de Choque posicionadas na via principal, no trecho da prefeitura-bairro, por volta das 9h30. Neste local, a sensação de segurança era maior. "A polícia aqui é a garantia de que as coisas devem ficar bem melhores', disse o dono de uma loja de calçados. "A situação ontem [anteontem] foi difícil. Um Gol prata circulou atirando pra cima à noite. Ninguém sabe o motivo. Algumas mortes já tinham acontecido. Vamos ver agora com a polícia se a coisa melhora", comentou o funcionário de uma lanchonete.

Já nas regiões afastadas da via principal, como a Rua do Penacho Verde e Nova Brasília, não havia viaturas posicionadas. "Não ficam. Quando surgem, passam direto. Isso é segurança? Não! Botam as viaturas paradas na principal. Mas onde realmente precisa, de uma ação da PM com mais força, não tem", comentou um agente da prefeitura que mora na Penacho Verde.

 

Itens relacionados (por tag)

  • De azul e branco, baianos e turistas celebram a Rainha do Mar

    Colares, fitinhas, flores e o cheiro de alfazema tomaram conta das ruas do bairro do Rio Vermelho, em Salvador, onde baianos e turistas se reuniram para celebrar a Rainha do Mar, Iemanjá, nesta sexta-feira (2).

    Por volta das 6h30, o sol estava escondido entre as nuvens, mas isso não impediu que o público fosse para o local e formasse uma longa fila para entregar o presente à Iemanjá.

    Na multidão estava o biólogo Maick dos Santos, que é de São José do Rio Preto, em São Paulo. Esta é a segunda vez que ele participa da festa.

    “Eu vim ano passado pela primeira vez e decidi voltar este ano, porque eu gosto muito da energia, de toda a cultura que envolve a celebração”, disse.

    Para o paulista, este dia é marcado pela valorização da cultura e das religiões de matrizes africanas.

    “Acho importante as pessoas entenderem de onde elas vêm. É um momento para celebrar a ancestralidade, a religiosidade e toda a história da cultura preta”, destacou.

    Pouco tempo depois, o sol apareceu e as nuvens se dispersaram no céu. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão é de que a temperatura máxima chegue até 32º nesta sexta, na capital baiana.

    De vestido azul e tranças pretas, a oceanógrafa Ana Beatriz participa da festa todos os anos. Baiana de Salvador, ela escolheu uma roupa leve para curtir o dia em meio ao calor que faz na cidade.

    “Acho que é um momento para agradecer pelo ano que passou e pedir prosperidade e caminhos abertos para este ano que está começando”, disse.

    Quem também é veterana na celebração é a carioca Inês Cunha. Este é o sétimo ano que ela participa da festa e, segundo a carioca, já virou tradição usar a mesma camisa branca com o trecho de uma música em homenagem à Rainha do Mar.

    "Eu uso essa camisa, porque ela tem o trecho de uma música da Império Serrano, de quando a escola de samba fez uma homenagem à Iemanjá”, explicou.

    “Hoje é um dia para se recomeçar com as raízes, com a ancestralidade. Cada vez que a gente vem, a gente descobre uma coisa diferente. Já fiz minha oração, molhei os pés no mar, participei da roda de samba e agora estou volta do para o hotel”.

    Quem ficou responsável pelo presente principal de Iemanjá foi a Casa de Oxumarê, localizada na Avenida Vasco da Gama, em Salvador. Ele será entregue por volta das 16h desta sexta.

    O tema deste ano é Olokun que, segundo os organizadores, é o espírito do vasto do oceano que mora nas profundezas, e foi escolhido através de um jogo de búzios feito pelo babalorixá da Casa de Oxumarê, Babá Pecê.

    "Temos dois presentes hoje: um foi o sonho dos pescadores e [o outro], a concha, foi escolhida pelo oráculo. A concha representa não só a riqueza do mar, o oxogênio, mas também a mudança do ser", explicou Babá Pecê.

    Entre os adornos utilizados no presente estavam conchas, flores, uma imagem que representa a Rainha do Mar, comidas, além de outras "coisas secretas" que, de acordo com os organizadores, não podem ser detalhadas.

    Autoridades políticas estiveram no local, a exemplo do governador Jerônimo Rodrigues e do vice-governador Geraldo Júnior. O prefeito de Salvador, Bruno Reis, deve comparecer pela tarde dutante a entrega do presente.

  • Parte de prédio que abrigou restaurante citado em obra de Jorge Amado desaba em Salvador

    Parte do prédio que abrigou o Restaurante Colon por 107 anos, em Salvador, desabou na manhã desta quinta-feira (25), um dia após ser interditado pela Defesa Civil da capital baiana (Codesal). Tradicional na capital baiana, o estabelecimento localizado no bairro do Comércio, foi citado na obra "O Sumiço da Santa", do escritor baiano Jorge Amado.

    Por causa do risco de desabamento, parte da Praça Conde dos Arcos, localizada na Rua da Holanda, também foi isolada na quarta-feira. Enquanto o acesso ao local está interditado, a opção de tráfego, segundo a Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador), é seguir pela contramão, na Rua Alvares Cabral.

    De acordo com a Defesa Civil de Salvador (Codesal), por falta de manutenção, o prédio foi evacuado, em vistoria realizada no dia 28 de setembro de 2020, e o responsável pelo estabelecimento, aberto na época, foi notificado a suspender as atividades comerciais e evacuar o imóvel imediatamente.

    A interdição ocorreria até que o risco fosse sanado com a realização de serviços de recuperação e reforço estrutural das partes instáveis do imóvel, principalmente nos três últimos pavimentos superiores, sob a supervisão de um profissional habilitado junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA).

    Segundo a Codesal, a solicitação de inspeção predial foi encaminhada, então, à Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) para a interdição do restaurante e imóvel. Na época, o prédio apresentou desprendimento de reboco da fachada lateral.

    A secretaria informou ainda que, na quarta-feira (24), a Codesal realizou uma nova vistoria no local, fechado há cerca de três anos, interditando, por precaução, a área do entorno com a ajuda da Transalvador.

    A Codesal ressaltou que até então, não houve necessidade de interditar os imóveis próximos. Antes do prédio desabar, equipes da secretaria retornaram nesta quinta-feira (25), ao local com técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para nova avaliação.

    Imóvel em área tombada pelo Iphan
    Em nota, o Iphan informou que tem um processo aberto de fiscalização, desde 2022, para apurar possível degradação do imóvel, que está em área tombada pelo Instituto.

    Em vistoria realizada nesta quinta, antes do desabamento, foi constatado que o prédio estava em estado de degradação. O Iphan afirmou que por se tratar de imóvel particular, a responsabilidade pela conservação dos bens tombados é dos proprietários.

    O Iphan explicou que tem acionado órgãos públicos para se ter os nomes dos proprietários do prédio para adoção das medidas cabíveis, podendo gerar multa, em caso de negligência. Disse ainda que recebeu uma informação sobre a identidade do dono e o auto de infração está sendo emitido.

    Fechamento do restaurante
    Após 107 anos de funcionamento, o Restaurante Colon fechou as portas em novembro de 2021.

    Fundado em 1914 por José Maria Orge, que saiu da Galícia, na Espanha, para fugir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o restaurante já recebeu a presença de personalidades como Jorge Amado, Carlinhos Brown, Neuza Borges, Tatti Moreno, Nelson Rufino, entre outros.

    A decisão de fechar o local ocorreu após a pandemia da Covid-19. O último dia foi marcado por um sentimento de tristeza para clientes e funcionários.

    No entanto, os donos do restaurante decidiram reabrir o estabelecimento em outro imóvel, localizado na Rua Conselheiro Saraiva, também no bairro do Comércio.

  • Vendedores ambulantes são deslocados para 'passarela' no carnaval de Salvador; entenda

    Os vendedores ambulantes que trabalham na Barra terão uma área específica no carnaval de Salvador em 2024. A prefeitura vai montar uma espécie de passarela atrás da balaustrada da orla para os trabalhadores.

    O anúncio foi feito pelo titular da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), Alexandre Tinoco. "Eles poderão ficar de forma confortável e segura, podendo servir as pessoas através da balaustrada", disse à TV Bahia nesta quarta-feira (24).

    Entenda a diferença:
     Nos carnavais anteriores, os ambulantes ficavam na calçada, na frente da balaustrada.

     Neste ano, esses trabalhadores poderão ficar na estrutura montada ao fundo, especialmente para eles.

     O espaço vai abrigar também os isopores grandes dos ambulantes — o kit entregue pela prefeitura a cada trabalhador de serviço no carnaval é composto por um isopor grande e dois pequenos. Na folia de 2024, a caixa maior não poderá ficar na calçada.

     Mas os ambulantes poderão circular pela calçada e pela pista para se aproximar dos blocos, por exemplo, desde que usem os isopores pequenos.

    O objetivo com isso é "desafogar" as ruas do circuito para facilitar a circulação de pessoas.

    A estrutura está sendo montada entre o Farol da Barra e o Barra Vento. A estimativa da Semop é de que cerca de 320 a 350 ambulantes ocupem o espaço.

    Ao todo, considerando o Circuito Dodô, que vai da Barra à Ondina, e o Circuito Osmar, no Campo Grande, 4.110 trabalhadores foram cadastrados para o carnaval deste ano.

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