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Tropa do A: facção que liderou rebelião em Salvador é formada por ex-membros do Comando Vermelho

Tropa do A: facção que liderou rebelião em Salvador é formada por ex-membros do Comando Vermelho

Responsável por iniciar a rebelião na Penitenciária Lemos Brito (PLB) no domingo (20), quando cinco detentos morreram e pelo menos 17 ficaram feridos, a facção Tropa do A tem na sua história uma ligação estreita com o extinto grupo Comando da Paz (CP), que há pouco mais de dois anos foi absorvido pelo Comando Vermelho (CV), a segunda maior organização criminosa do Brasil.

É que a Tropa do A, conhecida também como Ordem e Progresso (OP) ou “Tudo 5”, tem como seu fundador Thiago Adílio dos Santos, conhecido como Coruja. Em 2019, ele foi apontado pela Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP) como o criminoso mais procurado de Salvador. Na ocasião, foi preso na comunidade de Jardim Caiçara, controlada pela facção CV, na cidade carioca de Cabo Frio, onde vivia numa casa simples para o padrão que ostentava.

Coruja foi cria do CP na região da Liberdade e anos depois ele se tornou uma das lideranças da facção no bairro. No entanto, Coruja quis voar mais alto e reuniu outros integrantes, formando seu próprio bando, a OP, que passou a ser chamada também de Tropa do A.

"Apesar de não ter levado à frente os estudos, ele era muito bom com os negócios, de fazer as coisas multiplicarem e, em pouco tempo, os pontos de drogas dele passaram a ser os mais rentáveis, pois vendia a droga mais barata e dava um prazo maior para pagamento", contou um policial civil que trabalhou muito tempo na 2ª Delegacia (Lapinha), unidade que atende as ocorrências da Liberdade e os bairros do entorno.


A Tropa passou a movimentar milhões por ano e conquistou espaços que antes pertenciam ao CP e ao Bonde do Maluco (BDM), como as áreas do Sieiro, Caixa d’Água, Curuzu, Pero Vaz e Santa Mônica.

Com a prisão de Coruja no Rio de Janeiro em fevereiro de 2019, a Polícia Federal, que participou da operação com a SSP-BA, informou que a Tropa do A movimentava mais de R$ 1 milhão por mês. Além disso, Coruja foi acusado de comandar uma chacina em janeiro de 2013, quando cinco pessoas foram assassinadas no bairro da Caixa d’Água. O traficante acabou solto por uma decisão judicial.

Fundador da Tropa do A, Coruja chegou a ser preso no Rio de Janeiro pela Polícia Federal (Foto: Reprodução)

Mas em agosto de 2020, as 'asas' de Coruja foram cortadas, aparentemente. Na ocasião, circularam nas redes sociais fotos e vídeos de um homem sendo sequestrado e posteriormente assassinado em Cabo Frio, no Rio. O conteúdo compartilhado dizia que a vítima era Coruja, que teria sido pego por homens do CV, a pedido do CP, como condição de se tornar uma célula da organização carioca na Bahia. A expansão da Tropa do A preocupava o CP, que, por sua vez, cortou a relação umbilical.

Apesar de todos os indícios do assassinato de Coruja, a polícia carioca informou que nenhum corpo com as características do traficante foi encontrado em Cabo Frio. "Como até agora não acharam (o corpo), tudo indica que usaram a prática conhecida como 'micro-ondas', onde a vítima é colocada dentro de pneus e em seguida incendiada. Isso é típico das facções do Rio. Depois, eles somem com o que sobrou", disse um policial do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), sem se identificar.

Desde a época do vídeo, não há notícias do criminoso. No entanto, a facção foi conquistando novos adeptos e fazendo enfrentamento às organizações criminosas mais “famosas”.

Repetição
Se o CP, hoje Comando Vermelho, foi responsável pelo desaparecimento de Coruja por conta da perda de território, a Tropa do A repetiu o feito nesse domingo. Temendo o crescimento do número de internos do CV, a facção planejou a execução do líder do CV na Penitenciária Lemos Brito: Daniel Pereira dos Santos, o Cuminho, e de outros nomes fortes do grupo rival, o que deu início à rebelião.

As execuções foram orquestradas por Porquinho, líder da Tropa do A na PLB. "Porquinho e Cuminho passaram a disputar o controle da PLB e a Tropa do A iniciou o ataque ao grupo rival", declarou o comandante do Batalhão de Guardas (BG) da Polícia Militar, o tenente-coronel Flávio Farias, na manhã de segunda-feira (21).

As armas de fogo usadas na rebelião – até o momento, somente uma pistola foi encontrada na unidade – chegaram às mãos de Porquinho ainda na manhã de domingo. Segundo mulheres dos presos que estavam na porta do Complexo Penitenciário da Mata Escura, pelo menos três armas teriam sido arremessadas no pátio da unidade prisional, prática comum pois não há um muro para separar um matagal no entorno da Avenida Gal Costa e o fundo do complexo.

Umas das mulheres disse ainda que Porquinho teria tomado conhecimento da existência de um vídeo em que Cuminho dizia que a PLB "avermelhou", dando a entender que a unidade prisional era controlada pelo CV.

Comando Vermelho
O Comando Vermelho Rogério Lemgruber, mais conhecido como Comando Vermelho e pelas siglas CV e CVRL, é uma das maiores organizações criminosas do Brasil. Foi criada em 1979 no Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

Entre os membros da facção, que se tornaram notórios depois de suas prisões ou mortes, estão o líder Fernandinho Beira-Mar, Marcinho VP, Mineiro da Cidade Alta, Elias Maluco e Fabiano Atanazio (FB). O CV já possui ramificações em outros estados brasileiros como Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, Pará, Maranhão, Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará, Mato Grosso do Sul, Goiás, Distrito Federal, Amazonas e algumas partes de Minas Gerais, Piauí, Paraíba, Pernambuco e da Bahia. Nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rondônia, Mato Grosso, Acre, Ceará e Tocantins, o CV é maioria no sistema penitenciário.

A facção descende da Falange Vermelha criada por Rogério Lemgruber ainda na década de 1970. Uma das primeiras medidas do Comando Vermelho foi a instituição do "caixa comum" da organização criminosa, alimentado pelos proventos arrecadados pelas atividades criminosas isoladas, daqueles que estavam em liberdade, o dízimo. O dinheiro assim arrecadado serviria não só para financiar novas tentativas de fuga, mas igualmente para amenizar as duras condições de vida dos presos, reforçando a autoridade e respeito do Comando Vermelho entre a massa carcerária.

Vítimas
Apesar do então secretário de Administração Penitenciária (Seap) Nestor Duarte ter informado que foram seis óbitos na rebelião de domingo, a própria Seap voltou atrás e divulgou o número de cinco mortos durante a rebelião.

Os mortos foram identificados como Carlos Augusto Santos Silva, de 31 anos, Daniel Pereira dos Santos, o Cuminho, de 36 anos, Gilvan Ferreira Santana, Amilton Portugal dos Santos e Hones Batista da Silva, de 32 anos, que foi preso em novembro de 2011 por assalto no bairro de Engenho Velho da Federação. Ele organizou e comandou uma fuga em massa em dezembro de 2011 no Complexo Policial dos Barris. Na ocasião, fugiram 52 detentos.

Além dos mortos, foram contabilizados, até o momento, 17 feridos, segundo a Seap. Já o Ministério Público da Bahia contabilizou 38 feridos, contando os que tiveram menor gravidade.

O Ministério Público informou ainda que abrirá inquérito civil para apurar as circunstâncias e os fatos da rebelião. O MP informou ainda que solicitou a ocorrência registrada pela penitenciária e também os dados atualizados quanto às mortes e à quantidade de feridos. Essas informações serão consideradas no decorrer do inquérito civil.

Veja abaixo a relação de alguns nomes de feridos já confirmados pela Seap:


1. Willian de Souza Lacerda

2. Adson Santos de Jesus

3. Mateus de Freitas Oliveira

4. Roberto Santos de Oliveira

5. Luciano Gomes Sobrinho

6. Carlos Matheus dos Santos

7. Luís Paulo Mouro da Silva

8. Jackson dos Santos

9. Márcio de Jesus Pereira

10. Oberdan Oliveira de Carvalho

11. Danilo de Jesus Vieira

12. Judison Carvalho Santos

13. Enrique da Silva Oliveira

14. Carlos Antônio Souza dos Santos

Itens relacionados (por tag)

  • De azul e branco, baianos e turistas celebram a Rainha do Mar

    Colares, fitinhas, flores e o cheiro de alfazema tomaram conta das ruas do bairro do Rio Vermelho, em Salvador, onde baianos e turistas se reuniram para celebrar a Rainha do Mar, Iemanjá, nesta sexta-feira (2).

    Por volta das 6h30, o sol estava escondido entre as nuvens, mas isso não impediu que o público fosse para o local e formasse uma longa fila para entregar o presente à Iemanjá.

    Na multidão estava o biólogo Maick dos Santos, que é de São José do Rio Preto, em São Paulo. Esta é a segunda vez que ele participa da festa.

    “Eu vim ano passado pela primeira vez e decidi voltar este ano, porque eu gosto muito da energia, de toda a cultura que envolve a celebração”, disse.

    Para o paulista, este dia é marcado pela valorização da cultura e das religiões de matrizes africanas.

    “Acho importante as pessoas entenderem de onde elas vêm. É um momento para celebrar a ancestralidade, a religiosidade e toda a história da cultura preta”, destacou.

    Pouco tempo depois, o sol apareceu e as nuvens se dispersaram no céu. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão é de que a temperatura máxima chegue até 32º nesta sexta, na capital baiana.

    De vestido azul e tranças pretas, a oceanógrafa Ana Beatriz participa da festa todos os anos. Baiana de Salvador, ela escolheu uma roupa leve para curtir o dia em meio ao calor que faz na cidade.

    “Acho que é um momento para agradecer pelo ano que passou e pedir prosperidade e caminhos abertos para este ano que está começando”, disse.

    Quem também é veterana na celebração é a carioca Inês Cunha. Este é o sétimo ano que ela participa da festa e, segundo a carioca, já virou tradição usar a mesma camisa branca com o trecho de uma música em homenagem à Rainha do Mar.

    "Eu uso essa camisa, porque ela tem o trecho de uma música da Império Serrano, de quando a escola de samba fez uma homenagem à Iemanjá”, explicou.

    “Hoje é um dia para se recomeçar com as raízes, com a ancestralidade. Cada vez que a gente vem, a gente descobre uma coisa diferente. Já fiz minha oração, molhei os pés no mar, participei da roda de samba e agora estou volta do para o hotel”.

    Quem ficou responsável pelo presente principal de Iemanjá foi a Casa de Oxumarê, localizada na Avenida Vasco da Gama, em Salvador. Ele será entregue por volta das 16h desta sexta.

    O tema deste ano é Olokun que, segundo os organizadores, é o espírito do vasto do oceano que mora nas profundezas, e foi escolhido através de um jogo de búzios feito pelo babalorixá da Casa de Oxumarê, Babá Pecê.

    "Temos dois presentes hoje: um foi o sonho dos pescadores e [o outro], a concha, foi escolhida pelo oráculo. A concha representa não só a riqueza do mar, o oxogênio, mas também a mudança do ser", explicou Babá Pecê.

    Entre os adornos utilizados no presente estavam conchas, flores, uma imagem que representa a Rainha do Mar, comidas, além de outras "coisas secretas" que, de acordo com os organizadores, não podem ser detalhadas.

    Autoridades políticas estiveram no local, a exemplo do governador Jerônimo Rodrigues e do vice-governador Geraldo Júnior. O prefeito de Salvador, Bruno Reis, deve comparecer pela tarde dutante a entrega do presente.

  • Parte de prédio que abrigou restaurante citado em obra de Jorge Amado desaba em Salvador

    Parte do prédio que abrigou o Restaurante Colon por 107 anos, em Salvador, desabou na manhã desta quinta-feira (25), um dia após ser interditado pela Defesa Civil da capital baiana (Codesal). Tradicional na capital baiana, o estabelecimento localizado no bairro do Comércio, foi citado na obra "O Sumiço da Santa", do escritor baiano Jorge Amado.

    Por causa do risco de desabamento, parte da Praça Conde dos Arcos, localizada na Rua da Holanda, também foi isolada na quarta-feira. Enquanto o acesso ao local está interditado, a opção de tráfego, segundo a Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador), é seguir pela contramão, na Rua Alvares Cabral.

    De acordo com a Defesa Civil de Salvador (Codesal), por falta de manutenção, o prédio foi evacuado, em vistoria realizada no dia 28 de setembro de 2020, e o responsável pelo estabelecimento, aberto na época, foi notificado a suspender as atividades comerciais e evacuar o imóvel imediatamente.

    A interdição ocorreria até que o risco fosse sanado com a realização de serviços de recuperação e reforço estrutural das partes instáveis do imóvel, principalmente nos três últimos pavimentos superiores, sob a supervisão de um profissional habilitado junto ao Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA).

    Segundo a Codesal, a solicitação de inspeção predial foi encaminhada, então, à Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) para a interdição do restaurante e imóvel. Na época, o prédio apresentou desprendimento de reboco da fachada lateral.

    A secretaria informou ainda que, na quarta-feira (24), a Codesal realizou uma nova vistoria no local, fechado há cerca de três anos, interditando, por precaução, a área do entorno com a ajuda da Transalvador.

    A Codesal ressaltou que até então, não houve necessidade de interditar os imóveis próximos. Antes do prédio desabar, equipes da secretaria retornaram nesta quinta-feira (25), ao local com técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para nova avaliação.

    Imóvel em área tombada pelo Iphan
    Em nota, o Iphan informou que tem um processo aberto de fiscalização, desde 2022, para apurar possível degradação do imóvel, que está em área tombada pelo Instituto.

    Em vistoria realizada nesta quinta, antes do desabamento, foi constatado que o prédio estava em estado de degradação. O Iphan afirmou que por se tratar de imóvel particular, a responsabilidade pela conservação dos bens tombados é dos proprietários.

    O Iphan explicou que tem acionado órgãos públicos para se ter os nomes dos proprietários do prédio para adoção das medidas cabíveis, podendo gerar multa, em caso de negligência. Disse ainda que recebeu uma informação sobre a identidade do dono e o auto de infração está sendo emitido.

    Fechamento do restaurante
    Após 107 anos de funcionamento, o Restaurante Colon fechou as portas em novembro de 2021.

    Fundado em 1914 por José Maria Orge, que saiu da Galícia, na Espanha, para fugir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o restaurante já recebeu a presença de personalidades como Jorge Amado, Carlinhos Brown, Neuza Borges, Tatti Moreno, Nelson Rufino, entre outros.

    A decisão de fechar o local ocorreu após a pandemia da Covid-19. O último dia foi marcado por um sentimento de tristeza para clientes e funcionários.

    No entanto, os donos do restaurante decidiram reabrir o estabelecimento em outro imóvel, localizado na Rua Conselheiro Saraiva, também no bairro do Comércio.

  • Vendedores ambulantes são deslocados para 'passarela' no carnaval de Salvador; entenda

    Os vendedores ambulantes que trabalham na Barra terão uma área específica no carnaval de Salvador em 2024. A prefeitura vai montar uma espécie de passarela atrás da balaustrada da orla para os trabalhadores.

    O anúncio foi feito pelo titular da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), Alexandre Tinoco. "Eles poderão ficar de forma confortável e segura, podendo servir as pessoas através da balaustrada", disse à TV Bahia nesta quarta-feira (24).

    Entenda a diferença:
     Nos carnavais anteriores, os ambulantes ficavam na calçada, na frente da balaustrada.

     Neste ano, esses trabalhadores poderão ficar na estrutura montada ao fundo, especialmente para eles.

     O espaço vai abrigar também os isopores grandes dos ambulantes — o kit entregue pela prefeitura a cada trabalhador de serviço no carnaval é composto por um isopor grande e dois pequenos. Na folia de 2024, a caixa maior não poderá ficar na calçada.

     Mas os ambulantes poderão circular pela calçada e pela pista para se aproximar dos blocos, por exemplo, desde que usem os isopores pequenos.

    O objetivo com isso é "desafogar" as ruas do circuito para facilitar a circulação de pessoas.

    A estrutura está sendo montada entre o Farol da Barra e o Barra Vento. A estimativa da Semop é de que cerca de 320 a 350 ambulantes ocupem o espaço.

    Ao todo, considerando o Circuito Dodô, que vai da Barra à Ondina, e o Circuito Osmar, no Campo Grande, 4.110 trabalhadores foram cadastrados para o carnaval deste ano.

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