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Veja quais foram os setores mais afetados pelo desemprego na pandemia

Veja quais foram os setores mais afetados pelo desemprego na pandemia

O ano de 2021 não começou nada bem para quem trabalha com alimentação e alojamento na Bahia, setor que, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), registrou o maior número de desligamentos no primeiro trimestre, com 52 mil pessoas perdendo sues postos. O segundo lugar neste triste ranking é ocupado pelo segmento de transporte, com 48 mil demissões; seguido pelo grupo que reúne as áreas de educação, saúde humana, administração pública e outros, com supressão de 39 mil vagas. No total, o levantamento realizado pelo IBGE aponta que em 31 de marõ último, 1,4 milhão de trabalhadores estavam desempregados na Bahia, uma taxa de 21,3% e que corresponde ao maior patamar de descoupação em 9 anos.

Também é a maior taxa registrada no país, empatado com a verificada em Pernambuco e muito acima da média nacional, que ficou em 14,7%. Uma situação que deve afetar tanto o setor privado - com menor consumo das famílias - quanto o público devido à consequente baixa na arrecadação do Estado, segundo economista ouvido.

A PNADC registrou também uma queda na população desalentada no estado, que está 3,4% (7 mil) menor que no fim de 2020 com uma redução de 28 mil pessoas. Mariana Viveiros, supervisora de disseminação de informações do IBGE na Bahia, explica a diferença entre desocupados e desalentados. "A pessoa desocupada necessariamente está procurando trabalho, enquanto o desalentado é a pessoa que não está trabalhando e não está na busca por emprego por conta de uma dificuldade que encontrou no mercado de trabalho. Ou seja, é alguém que procurou, não encontrou e desistiu".

Sem esperança

Esse é justamente o caso de uma fonte que preferiu não se identificar. Com anos de experiência de trabalho em hotelaria, ele ficou desempregado ainda em fevereiro, e até bateu em algumas portas, mas desistiu de procurar já que sua área não vai bem das pernas e lidera o ranking de redução de postos de trabalho. "Foi um baque pra mim. A gente sabia dos problemas que o local estava enfrentando pelo baixo fluxo de hóspedes, mas não me imaginava saindo da empresa. Depois que fui dispensado, tentei outras oportunidades na área, mas com a pandemia ninguém tá contratando e nada apareceu", conta ele, que teve de restringir os gastos em casa por não ter renda até o momento.

Outro que perdeu renda foi Erisson Santos, 23, que trabalhava em shopping. Ele faz parte do grupo que ainda não desistiu de uma oportunidade e segue insistindo por uma vaga de trabalho. "É, eu parei de trabalhar no fim de fevereiro e até olhei em sites e dei uma pesquisada pra ver se achava algo, mas não consegui. Tô na expectativa de encontrar ou ser chamado de volta, quem sabe. Com o trabalho, eu conseguia uma folga nas despesas que hoje não tenho mais, tenho que dar uma segurada nos gastos", diz.

Maria Cabral, 54, é professora e perdeu o emprego em que estava desde 2018. Para ela, a saída do cargo significou fazer alterações no que comprava e limitar os seus gastos. "A gente toma um susto porque não quer ficar desempregada, né? Porém, precisamos dar um jeito para evitar o endividamento. Corta umas coisas aqui, outras ali. Na verdade, precisei abrir mão de coisas normais e ter uma alimentação mais restrita, com a quase ausência de ítens com a elevação do valor de laticínios e carne, por exemplo", relata.

Prejuízo geral

Os problemas que Maria enfrenta para equilibrar as contas em casa são as consequências individuais do desemprego, mas os impactos não param por aí. O economista Edísio Freire, colunista do CORREIO, alerta que a falta de renda de um número tão expressivo de baianos vai prejudicar a todos de alguma forma. "Do ponto de vista econômico, o resultado da falta de emprego é até óbvio. Há uma redução na renda, que faz com que a circulação de dinheiro seja menor, o que derruba as vendas em todos os setores e provoca uma queda na arrecadação do estado", diz. "Não é só um problema individual, é coletivo, todo mundo perde", completa, ressaltando que a verba colhida pela gestão estadual é direcionada para áreas como educação, segurança e saúde.

Poderia ser pior

O economista Guilermo Etkin, coordenador de pesquisas sociais da Superintendência de Estudos Econômicos e Socias daBahia (SEI) disse ao O Que a Bahia Quer Saber, podcast do CORREIO, que esse efeito poderia ser ainda maior se não fosse a medida provisória que concedeu aos empregores a oportunidade de redução ou suspensão da jornada de trabalho, que vigorou por nove meses em 2020. "Contribuiu bastante para amenizar, não temos um dado para identificar a intensidade que isso ocorreu. Se esperava que houvesse uma supressão em postos de trabalho ainda maior. Então, se sentiu o efeito dessas medidas", afirma.

Ele disse ainda que, em 2021, devemos ver os impactos que não vimos no ano passado por conta desta e de outras medidas como a do auxílio emergencial, que voltou para este ano, mas em um volume muito inferior. "Talvez a gente sinta as consequências que não foram sentidas em 2020 com a força desses programas. Em 2021, com o esfriamento dessas medidas, o que se espera em termos de desocupação é ainda um aumento".

Onde posso arrumar um emprego na Bahia? Quem são os desempregados dessa pandemia? O podcast O Que a Bahia Quer Saber, programa semanal com matérias especiais do CORREIO, ouviu especialistas e personagens para responder a estas e outras perguntas. O podcast vai ao ar todas as segundas-feiras, de manhã. Você poderá acessar os episódios aqui mesmo no site do Correio* ou no seu aplicativo favorito de podcasts: Spotify, Deezer, Anchor, Google Podcasts ou Apple Podcasts.

Veja os cinco setores que mais perderam postos de trabalho no primeiro:

1° - 52 mil a menos e queda de 16,5% - Alojamento e alimentação
2° - 48 mil a menos e queda de 16,8% - Transporte, armazenagem e correio
3° - 39 mil a menos e queda de 3,9% - Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais
4° - 34 mil a menos e queda de 10,6% - Serviços domésticos
5° - 31 mil a menos e queda de 8,3% - Construção

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